As influências das Redes Sociais no Comportamento dos Jovens


No cenário contemporâneo, através da minha experiência como educadora no IEP – Instituto de Educação Portal e psicóloga, tenho observado como as relações mudam dependendo do contexto, principalmente após a pandemia, que causou ainda mais o uso excessivo do celular. As redes sociais desempenham um papel central na vida de milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente entre os jovens. Essas plataformas digitais não apenas facilitam a comunicação e a interação, mas também moldam comportamentos, opiniões e percepções (Recuero, 2010).

Este artigo tem como objetivo explorar as múltiplas influências das redes sociais no comportamento dos jovens, analisando tanto os aspectos positivos quanto os negativos. Compreender essas influências é fundamental para pais, educadores e formuladores de políticas, na medida em que buscamos promover um uso saudável e consciente dessas ferramentas.

Podemos dizer que as redes sociais impactam diretamente as relações humanas e a forma como nos relacionamos com os outros. É uma área da vida extremamente importante que envolve: comunicação, emoção, afeto, psicológico, físico, identidade de si, identidade social, reconhecimento do outro, socialização, etc.

Problematização

As redes sociais são lugares onde não temos conhecimento concreto e real; o que vemos são apenas recortes e visões parciais da realidade, moldadas pelos interesses de quem posta (Santaella, 2010). Ou seja, cada usuário compartilha apenas aquilo que deseja que os outros vejam, criando uma representação seletiva e muitas vezes fragmentada e distorcida da vida real.

Compartilhando um pouco da minha vivência e experiência de educadora de ensino profissionalizante, é comum ver os jovens com dificuldades de aceitação de si, pois o julgamento dos outros importa muito para eles. A comparação que as redes sociais causam na vida deles de alguma forma afeta a autoestima e segurança de si (Ribeiro, 2017). Estudos têm mostrado que a exposição constante a postagens que parecem mostrar vidas perfeitas pode contribuir para níveis mais altos de ansiedade e depressão, especialmente entre os jovens (Fonseca, 2018).

Além disso, a necessidade de se conformar às normas percebidas nas redes sociais pode levar a comportamentos não autênticos, como a busca incessante por aprovação e validação através de curtidas e comentários (Sant’Anna, 2015). A comparação constante pode gerar o medo de estar perdendo experiências ou eventos importantes, o que pode levar a uma ansiedade constante e ao desejo de estar sempre online (Neto et al., 2015). Ao ver constantemente as realizações e momentos felizes dos outros, as pessoas podem se sentir menos satisfeitas com suas próprias vidas, achando que estão sempre aquém (Pereira et al., 2016).

Influências das Redes Sociais

As influências que as redes sociais estimulam nas pessoas são variadas. Aqui estão alguns aspectos principais de sua influência:

1. Autoimagem e autopercepção: Imagens editadas e filtradas podem criar padrões de beleza irrealistas, afetando a autoestima e a autoimagem, especialmente entre os jovens (Rodrigues, 2014). As pessoas frequentemente comparam suas vidas com as imagens idealizadas postadas por outros, o que pode levar a sentimentos de inadequação e inveja (Silva, 2015).

2. Comportamento e estilo de vida: As redes sociais são poderosas na disseminação de novas tendências, modas e desafios, influenciando o comportamento e estilo de vida dos usuários (Oliveira, 2013).

3. Consumo: Influenciadores e publicidade direcionada podem impactar as decisões de compra e consumo, promovendo produtos, serviços e estilos de vida (Ferreira & Silva, 2017). Essa comparação nas redes sociais incentiva o consumo excessivo. As pessoas podem sentir a necessidade de comprar produtos e serviços para igualar ou superar os outros. Para mitigar esses efeitos, é importante que os usuários das redes sociais desenvolvam uma visão crítica sobre o conteúdo que consomem, lembrando que a maioria das postagens é cuidadosamente selecionada para mostrar apenas os aspectos positivos da vida das pessoas (Santos, 2015).

4. Bem-estar mental: O uso excessivo e a pressão para manter uma presença constante podem levar a ansiedade e depressão (Moura, 2016). O medo de estar perdendo algo importante ou divertido que outras pessoas estão experimentando (FOMO) pode gerar estresse e ansiedade (Neto et al., 2015).

5. Conexões e rede de contatos: As redes sociais facilitam a manutenção de relacionamentos e a criação de novas conexões, mas também podem levar a interações superficiais (Carvalho, 2017). A dependência de interações online pode reduzir as interações face a face e aumentar a sensação de isolamento (Souza et al., 2018).

6. Informação e educação: As redes sociais permitem o acesso rápido a uma vasta quantidade de informações e notícias. Entretanto, a proliferação de informações não verificadas pode levar à disseminação de desinformação e fake news (Alves, 2017).

7. Expressão pessoal e criatividade: As redes sociais fornecem uma plataforma para a autoexpressão, permitindo que as pessoas compartilhem suas ideias, talentos e criatividade com um público amplo (Martins & Gama, 2013). Redes como o TikTok incentivam a criatividade com ferramentas de edição e formatos inovadores de conteúdo.

8. Ativismo digital: As redes sociais têm sido usadas para organizar movimentos sociais e políticos, mobilizando pessoas para causas importantes (Silveira, 2012). Facilitam discussões sobre temas políticos e sociais, aumentando o engajamento cívico (Gomes, 2015).

Referências Teóricas

Bauman, em seu livro *Amor Líquido* (2004), ao contextualizar a sociedade como modernidade líquida, destaca as fragilidades dos laços humanos. As relações humanas tornam-se cada vez mais flexíveis, instáveis e de curta duração. Com a chegada das redes sociais, que Bauman nomeia de ‘relações virtuais’, discutem-se os prazeres do convívio e os horrores da clausura. Diante dessas novas configurações de relacionamentos, questionam-se seus efeitos, privilegiando os benefícios e desvantagens dessas relações (Bauman, 2004).

Quando se fala de relações humanas, Martin Buber, em seu livro *Eu-Tu* (2001), enfatiza que “o homem é um ente de relação ou que a relação lhe é essencial ou fundamento de sua existência” (Buber, 2001, p. 15). Para o autor, o homem possui duas formas de atitudes no mundo: ‘Eu-tu’ e o ‘Eu-isso’. E apenas na esfera do ‘Eu-tu’, no ‘entre’, é que acontece a ‘dialógica’ ou o compartilhar de sentidos (Buber, 2001).

E durante as aulas, costumo estimular os educandos através de atividades de desenvolvimento humano com vivências que estimulam os sentidos, ou seja, o olfato, visão, tato, audição, as vezes o paladar. Nesses momentos, observa-se a dificuldade de alguns com o momento presente e com o compartilhar de sentidos com os outros. Muitos até se encontram ainda robotizados, vivendo no automático. Não conseguem apreciar a beleza da relação humana e muito menos se perceberem.

Para Buber (1982, p. 8), “dialógico não é apenas o relacionamento dos homens entre si, mas é o seu comportamento, a sua atitude um-para-com-o-outro, cujo elemento mais importante é a reciprocidade da ação interior.” Diante desses relacionamentos humanos na sociedade moderna, cada vez mais individualizados, encontramos alguns obstáculos e limitações de trabalho em equipe, de comunicação e de cooperação.

Lima (2009) evidencia a ‘ascensão da individualidade’ que provavelmente contribui para um fortalecimento na autonomia da pessoa. Porém, o autor ainda fala que o grande problema da atualidade tem sido a luta por reconhecimento e a justificativa para isso é o capital como universal dominante em nossa sociedade.

Quando Lima aponta para a questão do capital, percebo como as pessoas estão influenciadas por esse pensamento mais do que qualquer outra coisa. É muito comum conversar com os jovens em sala de aula e muitos querem ser bem-sucedidos, querem estabilidade financeira e querem ganhar dinheiro, independentemente de se vão exercer sua profissão como vocação. Ganhar dinheiro e rápido é o seu objetivo.

Ultimamente o que mais se comentam entre os jovens são os jogos de apostas, como cassinos (tigrinho), loterias e apostas esportivas, são baseados principalmente na sorte e no azar, e muitas vezes resultam em perdas financeiras para os participantes. Embora algumas pessoas possam ter sorte e obter ganhos ocasionais, a longo prazo a casa sempre tem uma vantagem estatística que favorece o cassino ou a empresa de apostas.

Infelizmente as redes sociais podem influenciar negativamente as pessoas ao promoverem jogos de apostas, sorte e azar como formas de ganhar dinheiro fácil, bem como golpes e investimentos mentirosos. É importante ter cautela e discernimento ao lidar com essas influências, buscando informações confiáveis e evitando práticas que possam resultar em perdas financeiras ou em situações de risco. A conscientização sobre os possíveis golpes e armadilhas financeiras presentes nas redes sociais é essencial para proteger-se e tomar decisões financeiras responsáveis.

Nomofobia

Gostaria de ressaltar um tema pouco falado e termo muito recente: Nomofobia, com origem do inglês: No-Mobile (sem celular). Ou seja, fobia de estar longe do celular ou de não estar conectado à internet (Santos et al., 2014). Com a pandemia de 2020, a dependência ao celular aumentou significativamente, pois era a única maneira de estarmos próximos aos nossos amigos e familiares.      

Essa preocupação com o celular e suas funções pode gerar ansiedade e irritabilidade, entre outros transtornos, que são mais evidentes ao tentarmos nos desconectar (Santos et al., 2014). Então, gostaria de trazer algumas sugestões de enfrentamento ou redução do uso de aparelhos celulares para ajudar na manutenção da saúde física e emocional.

Estratégias de Mitigação

Uma maneira de prevenir e promover saúde quanto ao transtorno, é buscar um espaço de escuta e orientações que viabilizem uma reflexão por parte do nomofóbico, quanto ao transtorno e a estratégias, medidas de como evitar ou amenizar o mesmo. Poderá buscar por programas familiares ou com os próprios amigos atividades ao ar livre, atividades com artes (aprender a tocar um instrumento; pinturas; atividades manuais) ou até mesmo atividades físicas, musculação, esporte, como também a diminuição gradativa do uso dessas tecnologias (Przybylski et al., 2013). Utilizar das próprias capacidades mentais para construir ou criar algo, estimulando sempre os sentidos, vivendo de forma presente e consciente. Exercendo sempre a memória, aprendendo e colocando em prática o que aprendeu. É o primeiro passo para que o nomofóbico ou pessoa que está prestes a virar dependente de aparelhos tecnológicos tenha uma melhor qualidade de vida. (Turkle, 2011).

Conclusão Final

Indubitavelmente, o desenvolvimento tecnológico e o surgimento da internet trazem benefícios inegáveis de ordem econômica e cultural para todo o mundo (Boyd, 2014). Essas inovações também influenciam mudanças nos paradigmas sociais que devem ser bem observadas. Os aparelhos tecnológicos são ferramentas que devem ser usadas para melhorar nossas vidas e não para destruir nossas habilidades de comunicação interpessoal. No entanto, os avanços tecnológicos não retrocederão, mas cabe sempre em qualquer era discernir o que é prioridade no estabelecimento das relações interpessoais (Bauman, 2004). Conforme Buber (1982, p. 7) diz: “toda vida verdadeira é encontro… E só existo na medida em que digo ‘Tu’ ao outro aceitando-o irrestritamente em sua alteridade com a totalidade do meu ser e por ele sou assim aceito”. A vida é relação humana. Precisamos voltar as origens, comer a comida sentido o seu sabor. Tocar o outro e sentir de forma presente e consciente o momento vivido.

Referências Bibliográficas

– Alves, A. A. (2017). Fake news e suas implicações na sociedade contemporânea. Revista Brasileira de Comunicação, 21*(3), 45-58.

– BAUMAN, Z. Amor líquido:sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

– BUBER, M. Do diálogo e do dialógico.São Paulo: Perspectiva, 1982.

– BUBER, M.Eu-tu.São Paulo: Ed. Cortez, Moraes, 2001.

– Carvalho, A. B. (2017). Redes sociais e a superficialidade das conexões humanas. Revista Psicologia e Sociedade, 29*(1), 112-123.

– Fonseca, A. S. (2018). Ansiedade e depressão em jovens: O papel das redes sociais. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 67*(2), 101-110.

– Gomes, W. (2015). Ativismo digital e mobilização social: Novas formas de engajamento. Cadernos de Comunicação, 19*(2), 39-54.

– LIMA, A. F. Da produção do não existente ao reconhecimento perverso: uma discussão sobre a persistência da racionalidade instrumental (politicamente correta) e a utopia do reconhecimento pós-convencional. Anais XVI Encontro Nacional da ABRAPSO, Maceió, 2009. Disponível em:<http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/332.%20da%20produ%C7%C3o%20do%20n%C3o-existente%20ao%20reconhecimento%20perverso.pdf>. Acesso em: 01 Ago. 2024..

– Martins, C. R., & Gama, R. C. (2013). Redes sociais e criatividade: A expressão pessoal em plataformas digitais. Revista de Comunicação e Linguagens, 30*(1), 87-101.

– Moura, J. R. (2016). O impacto das redes sociais no bem-estar mental. Revista de Psicologia Contemporânea, 22*(3), 213-225.

– Neto, F. P., Santos, L. M., & Oliveira, M. T. (2015). Medo de perder algo (FOMO) e ansiedade nas redes sociais. Psicologia em Estudo, 20*(4), 499-509.

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